Um post saudosista. Um post
triste. Mas um post esperançoso de que o Museu da Língua Portuguesa vai se
reerguer das cinzas. Literalmente. Acho que todo mundo sabe que infelizmente o
museu ardeu em chamas no fim de 2015, matando o bombeiro civil Ronaldo Pereira
da Cruz, que tentou controlá-las. Um alento é que o prédio possuía seguro
contra incêndio e que tem muita gente mobilizada pela reconstrução desse lugar
incrível.
Sou muito grata por ter visitado
o Museu da Língua Portuguesa algumas vezes. Por ter podido vivenciar sua
exposição permanente e algumas das temporárias. Por ter conhecido o único museu
do mundo dedicado a uma língua. Por isso esse post. E porque tenho certeza de
que logo logo ele estará em atividade novamente.
Estação da Luz, onde funcionava o Museu da Língua Portuguesa |
Incêndio no Museu da língua Portuguesa (foto Reprodução/G1) |
Como pessoa, amo a nossa literatura, nossas palavras. Como jornalista, amo o português e toda a riqueza dessa língua. Como seria diferente? Como não amar o barroco, o arcadismo, o romantismo, o realismo, o modernismo? Como não ser louca por quem escreve nessa língua como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, José Saramago, Jorge Amado, Camões e tantos outros mestres e mestras? Por isso o Museu da Língua Portuguesa era (e vai voltar a ser) um dos meus lugares preferidos no mundo.
Inaugurado em 2006, no magnífico
prédio da Estação da Luz, o museu rapidamente tornou-se um dos mais visitados
do país. E não é para menos. Repleto de interatividade, ele possuía tecnologia
de ponta para apresentar seu conteúdo. Tudo lá dentro oferecia uma experiência
sobre nosso português. Até os elevadores. Dentro deles, tocava um mantra de
Arnaldo Antunes repetindo as palavras “língua” e “palavra” em diferentes
idiomas, já anunciando ao que esse museu era dedicado. Dos elevadores também
era possível ter uma visão total da “Árvore de Palavras”, escultura de Rafic
Farah com 16 metros de altura.
No primeiro andar, ficavam as
exposições temporárias. Quando o fogo consumiu o lugar, a exposição era sobre
Câmara Cascudo, o mais importante nome da cultura do Rio Grande do Norte e um
dos mais importantes do Brasil. Ela deveria durar até fevereiro de 2016.
Cartaz da exposição de Câmara Cascudo (foto Museu da Língua Portuguesa) |
Já no segundo andar ficavam as
apaixonantes exposições permanentes. Entre elas, a “Grande Galeria” com sua
tela de mais de 100 metros de comprimento passando sem parar e simultaneamente filmes
sobre nossa língua e seu papel na vida das pessoas, o “Mapa dos Falares” em
que, a partir do mapa do Brasil era possível escolher determinado lugar e ver e
ouvir depoimentos de pessoas do local selecionado e o “Beco das Palavras”, com
seu jogo interativo em que os participantes podiam brincar com as palavras (era
o meu lugar preferido naquele museu, onde eu voltava a ser criança e aprendia
muito sobre português).
No terceiro andar, outro cantinho
que eu amava era a “Praça da Língua”, que como é descrita no próprio site do Museu, era um tipo de “Planetário da Língua”, com projeções em imagens e áudio
mostrando uma antologia da literatura em língua portuguesa, com curadoria de
José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski. Sabe aquele filme que sempre gostamos de rever? Assim era a “Praça da Língua”
para mim. Ouvi e vi a antologia algumas vezes, mas nunca enjoei.
Trecho de Nelson Rodrigues na "Praça da Língua". Desculpem pelo flash. |
Esse lugar, tão querido por mim e por tantas outras milhões de pessoas (só em seus primeiros três anos de funcionamento mais de 1,6 milhão de pessoas visitaram o museu), pode até estar temporariamente "fora do ar". Mas com todo o empenho em sua reconstrução com certeza logo reabrirá as portas. Espero ansiosamente por isso. Espero poder voltar lá mais uma, duas, três, dez vezes. Porque tenho certeza de que o Museu da Língua Portuguesa voltará a operar com todo o seu dinamismo, interatividade e paixão por nossa língua. Despeço-me com a mais linda palavra do português: saudade!
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