segunda-feira, 4 de abril de 2016

Frida Kahlo e uma exposição à altura de sua genialidade

Vou fugir às regras e colocar um Post Scriptum no início. Preciso confessar uma coisa. Esse foi o post mais difícil que eu já escrevi. Na verdade, acho que foi o texto mais difícil que eu já escrevi, e olha que sou jornalista, então escrever é comigo. Isso porque é muito complicado falar sobre alguém que a gente admira. Alguém grande e intenso como Frida Kahlo (1907-1954), mesmo que indiretamente, pois o foco não é a artista em si e sim uma mostra da qual ela é protagonista. Mas vamos lá!

Mariana e eu somos amantes da cultura. Música, livros, filmes e seriados estão entre as coisas que mais gostamos. Quando se trata de exposições então, morremos de vontade de ir a várias. O problema: eu moro em Londrina e as exposições mais legais do planeta nem cogitam passar por aqui. Mariana tem a vantagem de morar em Brasília, onde o circuito cultural é muito melhor, mas o momento nós estávamos em São Paulo. Então, nada mais natural que, estando na terra da garoa, fôssemos visitar a exposição sobre essa mulher espantosa, poderosa e feminista que estava acontecendo na cidade.

Essa mexicana, devotada ao marido, o pintor e muralista mexicano Diego Rivera - mas que também amava outras mulheres -, passou por muita coisa ruim. Só para resumir bem: poliomielite, um acidente de ônibus na juventude com múltiplas fraturas que culminou em dezenas cirurgias, abortos espontâneos, amputação de uma perna, traições do marido, sendo a com sua própria irmã, Cristina, a que mais a afetou.

Mas o que interessa mesmo é que ela foi uma mulher à frente do seu tempo, que tinha uma sensibilidade sem igual para a arte e, por isso, merecia uma exposição à altura. E ganhou. Aliás, nós brasileiros ganhamos, porque essa exposição foi feita especialmente para ser exibida por aqui.


A mostra “Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México” trouxe para o Instituto Tomie Ohtake não só a maestria das obras de Frida, mas também de outras artistas (eu não conhecia nenhuma delas, mas que agora sei que são maravilhosas e já me apaixonei por suas obras).

Para chegar, Mariana, Jalberti e eu pegamos um metrô e descemos na Estação Faria Lima (linha amarela). Caminhamos uns 10 minutos e logo avistamos a enorme fila em frente ao lindo prédio onde está o Instituto, que fica no número 201 da Avenida Brigadeiro Faria Lima. Enquanto eu fiquei na fila para entrada da exposição, já que esta se dava por ordem de chegada, Mariana e Jalberti foram comprar os ingressos por R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia-entrada. Ah! Como eu amo cultura com preço acessível. A fila andou muito rápido e logo chegou a nossa vez.

Prédio em que está situado o Instituto Tomie Ohtake

Entramos cheios de expectativas, que não foram decepcionadas. A mostra apresentou um total de 100 obras de 15 diferentes artistas. Com curadoria da pesquisadora Teresa Arcq, a exposição evidenciou como Frida conseguiu compor a rede cheia de conexões - que está explícita no nome da mostra - ao seu redor. Eu não conseguiria descrever essa exposição de forma melhor do que um dos totens colocados logo na entrada no prédio, por isso decidi tirar um foto dele e colocar aqui:


E foi exatamente isso que nós encontramos. Frida pintou apenas 143 telas em sua vida e na mostra pudemos ver cerca de 20 delas, além de mais 13 obras sobre papel, entre desenhos, colagens e litografias. Marca registrada da artista, os autorretratos não poderiam deixar de estar presentes e o público pôde ver seis deles. E, olhando sua obra de perto, não há como negar a força, a genialidade, o sentimento colocados em cada pincelada, em cada risco.

"Autorretrato com Macacos". Óleo sobre tela, 1943.
"O Abraço de Amor do Universo, a Terra, Eu, o Diego e o Sr. Xolotl". Óleo sobre tela, 1949
"Diego en mi Pensamiento". Óleo sobre masonite, 1943
"Frida e o Aborto". Litografia, 1932
"Retrato de Diego Rivera". Óleo sobre masonite, 1937
"Autorretrato com cama". Óleo sobre metal, 1937

A exposição também trouxe roupas típicas das índias tehuanas, as quais Frida passou a usar e que se tornaram outra de suas marcas. Ah! Em tempo: as tehuanas compõem uma sociedade matriarcal, daí a inspiração de Frida.


Agora, Frida não foi o único destaque da exposição. As personagens que fizeram parte de suas conexões também receberam seu merecido espaço, com suas telas, fotografias, desenhos. Vou colocar algumas das telas que mais gostei, mas só algumas, porque senão esse post não teria fim.

"Minotauro". Remedios Varo. Óleo sobre masonite, 1959
"Orplied". Leonora Carrington. Óleo sobre tela, 1955
"Garota de Ajijic". Sylvia Fein.  Tempera de ovo sobre masonite, 1944
"Autorretrato". Rosa Rolanda. Óleo sobre tela, 1944
"Minha tia, meu amiguinho e eu". María Izquierdo. Óleo sobre tela, 1942
Sem título. Bridget Tichenor. óleo sobre masonite, sem data

A exposição já passou, além de São Paulo, pelo Rio de Janeiro, onde ficou até o fim de março e o próximo e provável último destino será Brasília.

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